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Foto do escritorCharton Baggio Scheneider

Shabat Shalom: História, Origem e Significado da Saudação Judaica do Sabath

A saudação hebraica “Shabbat Shalom”, amplamente usada por judeus ao redor do mundo, tem uma história rica e intrigante que remonta ao misticismo judaico do século XVI. Embora muitos suponham que seja uma expressão moderna e de origem secular, sua gênese revela conexões profundas com tradições espirituais antigas e práticas cabalísticas.


O renomado cabalista Isaac Luria (1534–1582), também conhecido como Ha-Ari, desempenhou um papel central na disseminação de práticas espirituais na cidade de Safed, na Galileia. Foi nesse contexto que “Shabbat Shalom u’mevorakh” (“um Sábado de paz e abençoado”) começou a ser utilizado. O livro hebraico Hemdat Yamim (O Adorno dos Dias), publicado no século XVII em Jerusalém, descreve a prática de saudar familiares ao retornar da sinagoga no sábado com essas palavras.


Essa saudação, além de expressar paz e bênção, refletia os ensinamentos luriânicos sobre o sábado como um momento de harmonia espiritual e conexão divina. Curiosamente, a palavra “u’mevorakh” (abençoado) não encontra paralelo direto em termos gramaticais no hebraico da saudação, levando estudiosos a teorizar que ela poderia se referir ao anjo que, segundo crenças cabalísticas, acompanha os judeus durante o Sabbath.


O "Porém" na Compreensão do Shabat


Apesar de sua ampla aceitação, é importante compreender que a palavra “Shabat” em hebraico significa literalmente “cessar” ou “encerrar”. Este significado está diretamente ligado à ideia conforme descrito na Torá, em Bereshit 2:2-3 que diz:


E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, cessou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele encerrou toda a sua obra que Deus criara e fizera.

Assim, o Shabat é o encerramento de toda obra criativa (o cessar de todo trabalho) e este cessar se dá ao sétimo dia (veja mais sobre este tema no livro: "Calendário Judaico Lunar: Shabat o primeiro moed" em nossa loja) e este é um dia santificado, para que tenhamos um período na semana para nos dedicarmos a ter uma comunhão com Deus e para a celebração espiritual.


Nesse sentido, se você pensar logicamente a saudação “Shabbat Shalom” não carrega, em sua essência, o significado que a gigantesca maioria das pessoas creem que carregue, pois a palavra hebraica Shabat significa "cessar" e não "sábado". Com isso, ao declarar "Shabat Shalom" se está na verdade se desejando que se cesse a paz e não um "sábado de paz", o que na verdade retira a santidade do dia. Independente do contexto o de sua crença ou achismo, ou de qualquer costume cultural, dizer "Shabat Shalom" é sim uma prática errônea que se tornou costume amplamente aceito no Judaísmo, sem se pensar no seu real significado. Como se diz, cegos guiando cegos, o que na Torá diz: "Não amaldiçoarás ao surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas temerás o teu Deus. Eu sou o Eterno." (Lv 19:14)


Isso pode ser percebido como uma simplificação ou até mesmo uma perda da profundidade do Shabat, que está intimamente ligado à ideia de santidade e reflexão espiritual. Assim, enquanto “Shabat Shalom” simboliza na realidade um desejo de que paz seja cessada, é crucial lembrar que o foco do Shabat (o sétimo dia em que cessamos todo trabalho para nos dedicarmos a Deus) é um convite a entrar em um estado de elevação espiritual você poderia desejar a pessoa "Shalom Aleikhem" que significa "a paz esteja contigo" ou como os judeus do leste europeu falam: "Gut Shabes" (às vezes também escrito como "A gutn Shabes"). Literalmente, significa "Um bom cessar" e é amplamente usada pelas comunidades judaicas asquenazitas, especialmente entre os judeus ultraortodoxos e aqueles que preservam tradições mais antigas da Europa Oriental.


Enquanto "Shabat Shalom" carrega uma ênfase que se pensa estar associada a paz ao sábado - e não o é; "Gut Shabes" é uma expressão mais direta e prática, refletindo o estilo do iídiche, que geralmente busca uma simplicidade calorosa nas saudações.


Da Palestina para o Mundo


A saudação se espalhou das comunidades sefarditas da Palestina para outras partes do Oriente Médio, mantendo seu uso em círculos místicos e seculares. No entanto, ela não era tradicionalmente usada por judeus da Europa Oriental, onde predominava a expressão iídiche "a gutn shabes” (“um bom Cessar”). Quando pioneiros sionistas da Europa Oriental migraram para a Palestina no início do século XX, adotaram “Shabat Shalom” como saudação, atraídos por sua simplicidade e pela desconexão com o simbolismo religioso do Velho Mundo.


Essa adaptação não foi isolada. Os sionistas também preferiram a pronúncia hebraica sefardita em vez da asquenazita, reforçando sua rejeição às tradições europeias em favor de uma identidade cultural enraizada na Terra de Israel.


A Versatilidade da Saudação Hoje


Atualmente, “Shabat Shalom” é amplamente usada em comunidades judaicas ao redor do mundo, com exceção de círculos ultraortodoxos que ainda preservam o “gut shabes” em iídiche. Muitas vezes a saudação é complementada de diferentes maneiras. como por exemplo:


  • “Shabat Shalom u’mevorakh” (que se pensa se estar dizendo "um sábado de paz e abençoado").

  • “Shabat Shalom u’verakha” (que se pensa se estar dizendo "um sábado de paz e bênção").

  • A simples repetição de “Shabat Shalom” (que se pensa se estar dizendo "sábado de paz").


Cada uma dessas variações reflete as nuances culturais e linguísticas das comunidades judaicas, pensando-se se estar preservando a essência de um desejo que na verdade é uma distorção do que realmente significa a palavra Shabat.


Conclusão


Mais do que uma simples saudação, “Shabbat Shalom” encapsula séculos de tradições e significados espirituais errôneos. Sua trajetória, desde as práticas cabalísticas em Safed até sua popularização no moderno Estado de Israel e na Diáspora, exemplifica como os rituais podem transcender contextos históricos e culturais, conectando o presente ao passado em uma mensagem atemporal que não representa um desejo de paz e sim o cessar desta. Ao mesmo tempo, a saudação nos lembra da importância de não perder de vista a essência e a busca da verdade diante de diversas práticas, costumes e tradições que na verdade não possuem o espírito que se pensa possuir. Pararmos de ser gado, que simplesmente segue a boiada cultural, sem ao menos refletir do porque se está seguindo aquele caminho. Se pensarmos em muita coisa que nos acontece e nos tira a Shalom neste mundo podemos ver claramente que o desejo expresso toda sexta-feira a noite e durante o dia de sábado se torna real - nossa paz vive sendo encerrada, cessada! Em vez de tradições impensadas, deveríamos nos ater ao propósito mais profundo do Shabat: um momento em que cessamos as atividades de trabalho para nos dedicarmos aquilo que é sagrado, cessar as atividades cotidianas e conectar-se ao divino para que tenhamos verdadeiramente um “gut shabes”.

A escolha ou a decisão de você fazer o que é correto ou o que é comum não é minha, mas de cada um de nós.


Levítico 18:5

Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis; os quais, observando-os o homem, viverá por eles. Eu sou o Eterno.

Neemias 9:29

E testificaste contra eles, para que voltassem para a tua lei; porém eles se houveram soberbamente, e não deram ouvidos aos teus mandamentos, mas pecaram contra os teus juízos, pelos quais o homem que os cumprir viverá; viraram o ombro, endureceram a sua cerviz, e não quiseram ouvir.

Ezequiel 3:21

Mas, avisando tu o justo, para que não peque, e ele não pecar, certamente viverá; porque foi avisado; e tu livraste a tua alma.

Shalom aleikhem!



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