
Estava estudando a respeito de psicofuncionalismo esta semana que se findou. Uma sentença me chamou a atenção em um dos textos referidos. “Não há grandeza onde não há verdade”. Gotthold Lessing, citado por B. F. Skinner, traduz muito bem a ideia de Aristóteles sobre causas-finais e a relação entre potência e ato. Sumariamente, uma causa-final de um pincel é a Monalisa, de uma pena é Crime e Castigo, de um ser humano o amar e assim por diante. Enquanto poderíamos pensar no psicofuncionalismo ou Teoria da Mente, ora como uma dicotomia cérebro-mente, ora como uma unidade, atos e potências nos ajudam a entender melhor sobre a natureza da ontologia. Uma semente é uma árvore em potência. Uma árvore é uma semente em ato. Na parashat desta semana, lemos:
"Fala aos filhos de Israel, e que tomem para Mim uma oferenda; de todo homem cujo coração o impelir, tomareis a Minha oferenda." (Shemot 25:2)
Se há um mistério a ser sondado no edifício do que é ou pode ser Kadosh, uma confidência que o próprio Divino, com linguagem velada e sublime, sussurra ao coração daqueles capazes de ouvi-Lo, oculta-se ela nos desígnios desta parashat, na qual o comando da construção do Mishkan não se cose com exigências de medidas, tampouco com fórmulas fixas para sua alçadura, mas sim com um chamado que não obriga, uma convocação que não constrange, uma ordem que, paradoxalmente, só se efetiva no espírito do ofertante se este já estiver movido, por si mesmo, ao ato de doar - a potência já está lá.
Pois assim está escrito: "de todo homem cujo coração o impelir", como se o santuário de Deus, antes de ser erguido com colunas e cortinas, já devesse existir, em potencial, no mais recôndito dos ânimos humanos. E se este impulso não brotar livremente, qual rio que não conhece margens e que se lança ao oceano sem temor ou contenção, não haverá construção alguma que possa sustentar-se sob o peso de sua própria inautenticidade - entenda-se a completude inabalável e insondável do ato em si.
Não seria, então, o Mishkan menos um local erigido por mãos e mais um reflexo da morada interior que, desde tempos imemoriais, Deus busca erguer nos corações de Seus filhos? Pois não disse Ele:
"E farão para Mim um santuário, e habitarei no meio deles." (Shemot 25:8)
E não seria natural que dissesse "habitarei nele", referindo-Se ao Tabernáculo? Mas eis que não; pois não em estruturas de madeira e ouro reside Deus, mas sim em espíritos que O acolhem, e não em pedras engastadas de esplendor brilha Sua Presença, mas no fulgor da alma que a Ele se entrega. O próprio Sinai, com todo o seu tremor e glória, não foi mais do que um instante, uma fagulha do Eterno na linearidade do tempo; mas o Mishkan, este haveria de ser a permanência do divino no mundo profano, sua tradução em matéria, desde que, para além das cortinas de linho e dos querubins alados, houvesse em cada homem um coração disposto a ser tenda para o Infinito, reflete o Shemot Rabbá 33:1.
Na ancha lista de oferendas requisitadas para a edificação do Tabernáculo, encontram-se metais e tecidos, peles e madeiras, azeites e especiarias, pedras preciosas e cristais. Mas se o Altíssimo, cuja voz forjou o cosmos e cuja vontade molda os astros, houvesse desejado para Si um palácio, não seriam os próprios céus Seus arquitetos? Não seriam as constelações os pilares de Sua morada e as miríades de estrelas, os candelabros de Sua luz?
Por que, pois, haveria Deus de se contentar com ouro humano, se todo o ouro é Seu? Por que haveria de requerer prata dos filhos de Israel, se o universo não é mais do que o eco de Sua palavra?
O Talmud (Menachot 110a) sussurra a resposta que a alma anseia ouvir: porque não são os materiais, mas sim o ato de doá-los que edifica o sagrado. O ouro, em si, não vale mais do que o cobre, mas a intenção daquele que o entrega confere-lhe peso eterno. A prata, na terra, pode brilhar mais que o linho, mas o fogo do coração que a oferece tem brilho muito maior nos céus. E se um homem, não tendo joias, oferece sua devoção, suas preces e seu tempo, acaso não ergueu para Deus um altar mais valioso do que mil templos revestidos de pedras preciosas? A pombinha simples e pequena não é, muitas vezes, superior a toneladas de ouro ou prata? E a causa-final do que era claro não se denota tão somente nessa alyah, nessa teshuvah ao próprio Eterno que faz de nossa potência um ato em si?
Não por acaso, a própria palavra terumah (oferenda) compartilha sua raiz com romemut (elevação), pois o que se entrega ao divino não permanece na condição de simples matéria: transcende, ascende, perpetua-se. O Gaon de Vilna compara o Mishkan a um reflexo do templo celestial, pois, ainda que as cortinas se rasguem e as colunas se rompam, aquilo que fez alyah ao Eterno jamais se perde.
O Midrash Terumah ensina que, mesmo quando o Beit HaMikdash foi consumido pelas chamas, as orações dos justos, vertidas ali ao longo das gerações, jamais se dissiparam, pois aquilo que o homem oferece a Deus com coração sincero transfigura-se em substância imortal. Por isso não um novo Templo. Por isso não UM Mashiach, mas uma era messiânica, brincando de potência em ato em uma temporalidade metafísica?
Não haja, pois, engano em nossas almas: o que Deus nos exige não é um monumento de mármore, nem um trono de riquezas, nem mesmo um palácio onde Seus pés repousarão. O que Ele deseja é que, em cada um de nós, erga-se um santuário de intenção pura, de espírito disposto, de entrega verdadeira.
E se o Tabernáculo que Mosheh Rabeinu ordenou levantar há muito desapareceu das areias do deserto, aquele que se constrói no âmago de cada alma jamais se esvaecerá.
Que possamos, então, sermos nós os que, com mãos dispostas e corações ardentes, elevamos nossas ofertas ao divino; que nossos dias sejam tijolos nesse edifício eterno, que nossas ações sejam os fios dourados desse tapeçário sublime e que, por meio de nossas doações – sejam elas de ouro ou de preces, de prata ou de palavras – sejamos, nós mesmos, um reflexo vivo do santuário onde a Presença de Deus deseja habitar. Não há valor onde não há verdade.