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Foto do escritorCharton Baggio Scheneider

Brit Bracha Brasil - Uma Congregação: Multicultural



A Brit Bracha Brasil é uma Congregação: multicultural judaica que foge do padrão das congregações judaicas do país. É formada por representantes de diversos segmentos do povo judeu. Entre seus membros encontram-se judeus italki, sefaradi, ashkenazi e marroquinos, bem como judeus que simpatizam com os movimentos progressista (liberal/reformista), conservador (masorti) e até mesmo com os ortodoxos – o que cria uma organização multicultural e com múltiplas facetas. O que nos torna a todos semelhantes, independente da etnia judaica ou da vertente de cada um, é que todos somos primeiramente judeus. Antes de sermos étnicos ou nos atrairmos por uma vertente judaica, somos judeus. Todos prezamos por um Judaísmo acessível, inclusivo, com bases éticas, morais e baseado na justiça social – Tikun Olam. Em nossos serviços religiosos e classes, podem-se observar judeus com pele clara (ashkenazim e italkim) e de pele mais escura (sefaradim e marroquinos), mulheres de talit e algumas até usando kipah, mulheres sendo contadas para o minyan e chamadas para lerem a Torah. Talvez impressione alguns ver que a pessoa responsável pela condução do serviço litúrgico não seja um chazan, mas sim uma chazanit, sim, isso mesmo, uma mulher.

Os Italkim (em hebraico italiano plural de “italki”) é um termo utilizado dentro do hebraico moderno para designar os judeus que historicamente viveram na Itália, também chamados de Bnei Roma. Uma grande parte migrou para Israel na segunda Aliyah. Seus costumes e ritos religiosos servem como um elo entre os costumes Ashkenazim e Sefaradim, apesar de testes genéticos recentes confirmarem sua relação mais próxima com os judeus ashkenazim. Também desenvolveu-se na comunidade um uso especial do italiano que é conhecido como Italkian. Um dos mais conhecidos judeus italianos foi o rabino Moshe Chaim Luzzatto (1707-1746), grande estudioso e escritor de trabalhos sobre religião, ética e moral. A comunidade judaica da Itália existe desde antes do século V aEC.

Já os Sefaradim (em hebraico sefaradi; no plural, sefaradim) é o termo usado para referir aos descendentes de judeus originários de Portugal e Espanha. A palavra tem origem na denominação hebraica para designar a Península Ibérica (S’farad). Utilizavam-se da língua sefardi, mais propriamente eternizada como "judeo-español" e "ladino", sendo de uma riqueza cultural e artística surpreendente. Os sefaradim provavelmente se estabeleceram na Península Ibérica durante a era das navegações fenícias, embora a sua presença só possa ser atestada a partir do Império Romano. Sobreviveram à cristianização, invasão visigótica e moura, mas começaram a sucumbir na fase final da Reconquista. Os judeus fugiram das perseguições ocorridas na Península Ibérica na inquisição espanhola (1478 -1834), dirigindo-se a vários outros territórios. Uma grande parte fugiu para o norte de África, onde viveram durante séculos. Milhares se refugiaram no Novo Mundo, principalmente nos EUA, México e Brasil. A primeira Sinagoga das Américas foi a Kahal Zur Israel, no México, país onde, na atualidade, há milhares de descendentes dos judeus – conhecidos como marranos. Os sefaradim podem ser divididos, didaticamente, em Ocidentais e Orientais. Os ocidentais são aqueles de origem ibérica, enquanto os orientais são aqueles que viveram em territórios do Império Otomano e arredores.

O termo sefaradi é frequentemente usado em Israel para referir-se aos judeus oriundos do norte da África. Entretanto, é um erro referir-se genericamente a todos os judeus norte-africanos e dos países árabes como sefaradim. Os judeus mais antigos destes países são chamados Mitzrachim (de Edot haMitzrach, comunidades do leste). Houve importantes comunidades sefaradim nos países árabes, quase sempre conflitivas com os povos autóctones, sobretudo no Egito, Tunísia e Síria. Eram judeus hispânicos que quase sempre se opunham à Kabalah sefaradi, com um serviço religioso bem disciplinado e de melodias suaves. O rito ocidental é conhecido como Espanhol-Português. Os Sefaradim foram responsáveis por boa parte do desenvolvimento da Kabalah medieval e muitos rabinos sefaradim escreveram importantes tratados judaicos, referenciais usados até hoje em estudos importantes.

Os Ashkenazim são os judeus provenientes da Europa Central e Oriental. O termo provém do termo do hebraico medieval para a Alemanha, chamado Ashkenaz. Nos dias de hoje, o termo ashkenazi é utilizado para tratar das tradições religiosas dos judeus que viviam na Europa Oriental, assim como as de seus descendentes, espalhados por todo mundo após o Holocausto – a Shoah. Registros históricos denotam evidências da presença de comunidades judaicas ao norte dos Alpes e Pireneus desde os séculos VII e IX da Era Comum. No início do século X, populações judaicas já estavam bem estabelecidas no norte europeu, com importantes povoamentos na Renânia. Porém, antes disto, é muito provável que tenha havido a instalação de pequenas e esparsas populações judaicas nessas regiões. Segundo Bereshit (Gênesis) capítulo 10:3, Ashkenaz foi um bisneto de Noah, neto de Yafet e filho mais velho de Gomer. Os descendentes de Ashkenaz, conforme a tradição, seriam os citas, que, de acordo com Yirmeyahu (Jeremias) 51:27, viviam nas proximidades do Monte Ararate e eram chamados ashkuza nas inscrições assírias. A região da Ascânia (Askanier), na Anatólia, deriva seu nome desse grupo, que se acredita tenha avançado até a Europa. Houve uma dinastia alemã de juízes, também chamados de casa de Ascânia, vivendo na região de Aschersleben, na Saxônia. O termo ashkenaz acabou, com o tempo, sendo uma denominação comum à região que conhecemos hoje como Alemanha.

Há diversas distinções entre as diferentes vertentes judaicas com relação a temas como o Eterno, a Torah, Halakhah, Mulheres, Kashrut, Brit Milah, Divórcio, Matrimônio Misto. A seguir, trataremos sumariamente desses temas para que, entendendo as diferenças, possa haver o entendimento e, com o entendimento, ocorra uma aceitação dessas diferenças, gerando harmonia e bom viver em comunidade.

●         Deus. Para os ortodoxos é uma deidade pessoal cuja providência é uma realidade, para os conservadores há várias interpretações, desde o sobrenaturalismo até o humanismo naturalista. Para os progressistas, igualmente, há várias interpretações, com uma ampla margem para naturalistas, sobrenaturalistas e humanistas religiosos.

●         Torah. Para o ortodoxo ela é de origem divina, entregue a Mosheh no Monte Sinai. Para o conservador, é a palavra de Deus revelada, mas não literal, levada a nós mediante a transmissão humana. E, para o progressista, a Torah foi escrita por mãos humanas, com inspiração divina; porém,  outros pontos de vista.

●         Halakhah. Para os ortodoxos ela é eterna, necessária e irrevogável; é o guia literal e somente os rabinos podem reinterpretá-la e adaptá-la a novas situações. Os conservadores são a favor de conservar a tradição, mas consideram que pode haver mudança como resposta às necessidades modernas, sendo aceitas as decisões rabínicas. Para os progressistas, os aspectos éticos são a Revelação de Deus e são aceitos; as Mitzvot rituais são um meio de promover a espiritualidade; os indivíduos têm autonomia para decidir como aceitarão a halakhah.

●         Mulher. Para os ortodoxos os papéis e obrigações das mulheres são distintos dos homens; sentam-se separadas na sinagoga; somente homens podem ser rabinos e cantores; um minian não é relevante para a oração feminina. Os conservadores assumem que a mulher tem o mesmo papel que os homens na maioria dos rituais e práticas; podem formar parte de um minian, sentar-se com os homens na sinagoga e serem rabinas e chazaniot (cantoras). Para os progressistas a mulher possui total igualdade em todos os rituais e práticas; podem formar parte de um minian, sentar-se com os homens na sinagoga e ser rabinas e chazaniot (cantoras).

●         Kashrut. Para os ortodoxos é obrigatório respeitar as leis alimentares com literalidade, segundo as regras ortodoxas. Para conservadores, é obrigatório respeitá-las, segundo regras próprias. Já os progressistas motivam as pessoas a estudar as normas tradicionais que auxiliem na santidade da vida e na relação pessoal com Deus, seguindo as normas que trazem proximidade entre ambos.

●         Brit Milah. Para todos os segmentos (ortodoxo, conservador e progressista) é obrigatório para todo homem judeu.

●         Divórcio. Os movimentos ortodoxo e conservador exigem o documento de divórcio (guet). Para os progressistas, em geral, não há necessidade do documento (guet).

●         Matrimônio misto. Para os ortodoxos e conservadores é proibido. Para os progressistas, existe ainda certa controvérsia. Há alguns rabinos que oficiam as cerimônias. Os casais mistos são bem-vindos nas congregações.

Assim, agora você pode conhecer um pouco mais da realidade da Brit Bracha Brasil e de como ela é uma organização multicultural. Ainda nela você talvez se depare com pessoas de descendência nipônica ou de origem negra, sendo pessoas queridas que hoje são judeus plenos ao optarem por pertencer a nosso povo. São um orgulho por sua espiritualidade, sua fé no Único Deus,  na Torah, no povo judeu e no respeito a nossas tradições e costumes – superando, em muitos casos, muitos judeus natos. Alguns ainda fizeram retorno (Teshuvah), pois, devido à distância de uma comunidade judaica ou outros motivos, tinha ocorrido certo afastamento do povo judeu e, quando souberam de nossa comunidade, passaram a integrá-la, tendo sido uma grande alegria recebê-los em nosso meio e de podermos reintegrá-los plenamente a nosso povo. Alguns possuem casamentos mistos e são todos muito bem-vindos com seus (as) esposos (as), bem como com seus filhos em nosso meio. É como cantamos: Quão bom e agradável que os irmãos vivam em comunhão. Esta é nossa comunidade. Se você deseja estar em nosso meio, sempre será bem-vindo.

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